
O presidente Donald Trump anunciou na noite de quinta-feira (25 de dezembro) que os Estados Unidos realizaram um ‘ataque poderoso e mortal’ contra terroristas do Estado Islâmico no noroeste da Nigéria. Mais de 7.000 cristãos foram mortos na Nigéria durante os primeiros 220 dias de 2025, uma média de 35 mortes por dia. O ataque americano veio após meses de ameaças do presidente sobre a perseguição a cristãos no país africano.
Nota editorial: Este conteúdo tem caráter analítico e opinativo, baseado em debates públicos e fontes abertas. Não afirma como fatos comprovados condutas ilegais ou ilícitas. Seu objetivo é promover reflexão crítica sobre temas de interesse público.
O recado foi dado: EUA atacam posições terroristas na Nigéria
Trump publicou em sua rede social Truth Social que o ataque foi direcionado contra ‘Escória Terrorista do ISIS no Noroeste da Nigéria, que têm alvejado e matado viciosamente, principalmente, cristãos inocentes, em níveis não vistos por muitos anos, e até séculos’. ‘Eu havia avisado previamente esses terroristas que se eles não parassem com o massacre de cristãos, haveria um inferno para eles’.
O comandante-em-chefe afirmou que o exército americano conduziu ‘numerosos ataques perfeitos, como apenas os Estados Unidos são capazes de fazer’. O Comando Africano dos Estados Unidos confirmou os ataques, que foram conduzidos ‘em coordenação com as autoridades nigerianas’.
O presidente não poupou ironia em sua mensagem de Natal. ‘Feliz Natal para todos, incluindo os terroristas mortos, dos quais haverá muito mais se o massacre de cristãos continuar’, declarou Trump. A ação militar representa o cumprimento de uma promessa feita em novembro, quando ele ameaçou tomar medidas caso o governo nigeriano não conseguisse conter os ataques.
O secretário de Defesa Pete Hegseth escreveu no X que ‘haverá mais por vir’ e expressou gratidão ao governo nigeriano por seu apoio e cooperação. ‘O presidente foi claro no mês passado: a matança de cristãos inocentes na Nigéria (e em outros lugares) deve terminar’.
Esta decisão mostra que Trump não está disposto a aceitar passivamente o que considera genocídio cristão. Para defensores da liberdade religiosa, representa uma resposta necessária contra a barbárie. Para críticos da intervenção militar americana, levanta questões sobre soberania nacional.
Os números da tragédia: cristãos morrem a cada hora na Nigéria
A International Society for Civil Liberties and the Rule of Law (Intersociety) divulgou em agosto que pelo menos 7.087 cristãos foram massacrados na Nigéria nos primeiros 220 dias de 2025 – uma média diária de 32 cristãos mortos por dia. O relatório também afirma que 7.899 outros foram sequestrados por serem cristãos.
Desde 2009, aproximadamente 185.009 nigerianos foram mortos, incluindo 125.009 cristãos e 60.000 ‘muçulmanos liberais’. O relatório afirma que 19.100 igrejas foram destruídas, mais de 1.100 comunidades cristãs foram deslocadas e 20.000 milhas quadradas de terra foram tomadas.
Mais de 600 clérigos cristãos foram sequestrados, incluindo 250 padres católicos e 350 pastores, com dezenas mortos. Estes não são apenas números. São vidas humanas ceifadas pelo fanatismo religioso. São famílias destroçadas, comunidades arrasadas, uma civilização cristã sendo sistematicamente eliminada.
Mais cristãos são mortos por sua fé na Nigéria do que em qualquer outro lugar do mundo. A Nigéria tem sido um epicentro da perseguição cristã, com mais cristãos mortos por sua fé na Nigéria do que no resto do mundo combinado, segundo a organização de direitos humanos Open Doors.
A violência deslocou pelo menos 12 milhões de cristãos desde 2009, ano que marcou o início da insurgência do Boko Haram para estabelecer um califado na Nigéria e no Sahel mais amplo. Não se trata de conflito isolado, mas de campanha sistemática de eliminação.
Boko Haram e o projeto de Estado islâmico no norte da Nigéria
A população da Nigéria de 220 milhões está dividida quase igualmente entre cristãos e muçulmanos. O país há muito enfrenta insegurança de várias frentes, incluindo o grupo extremista Boko Haram, que busca estabelecer sua interpretação radical da lei islâmica. O grupo não ataca apenas cristãos – também mata muçulmanos que considera ‘não muçulmanos suficientes’.
Em 2012, o grupo islamista Boko Haram emitiu um ultimato, ordenando que cristãos na região norte deixassem o local enquanto pediam aos muçulmanos no sul para ‘voltar’ para o norte. A maioria das mortes direcionadas nos anos recentes aconteceram no norte.
O objetivo do Boko Haram é claro: transformar o norte da Nigéria em um estado islâmico independente. Para isso, precisa eliminar a presença cristã na região. Esta não é uma guerra por recursos naturais ou disputas étnicas comuns. É uma guerra ideológica e religiosa, com claros objetivos de limpeza étnico-religiosa.
A Nigéria está ‘sediando e fornecendo refúgio seguro para não menos que 22 grupos terroristas islâmicos embrionários e plenamente desenvolvidos na África com ligações ou ligações potenciais com ISIS, ISIL e Fundo Mundial de Jihad’, segundo o relatório da Intersociety.
O Cinturão Médio e os estados do norte são especialmente voláteis, com grupos militantes islâmicos como Boko Haram, extremistas Fulani e ISWAP (Província do Estado Islâmico da África Ocidental) alvejando comunidades cristãs através de massacres em massa, sequestros e queima de igrejas.
A realidade é mais complexa do que apresenta Trump
Os poucos dados existentes não apoiam as alegações de Trump de que cristãos estão sendo desproporcionalmente alvejados. De mais de 20.400 civis mortos em ataques entre janeiro de 2020 e setembro de 2025, 317 mortes foram de ataques direcionados a cristãos enquanto 417 foram de ataques direcionados a muçulmanos, segundo o Armed Conflict Location & Event Data.
Bulama Bukarti, defensor nigeriano de direitos humanos especializado em segurança e desenvolvimento, disse que ‘Sim, estes grupos (extremistas) mataram tristemente muitos cristãos. No entanto, eles também massacraram dezenas de milhares de muçulmanos’. Ele acrescentou que ataques em espaços públicos prejudicam desproporcionalmente muçulmanos, já que estes grupos radicais operam em estados predominantemente muçulmanos.
Um oficial do governo nigeriano escreveu em um artigo de opinião na Al Jazeera em outubro que, embora cristãos tenham ‘sofrido ataques horríveis’, uma ‘porção significativa da violência’ mal caracterizada como perseguição religiosa deriva de confrontos de longa data entre fazendeiros majoritariamente cristãos e pastores em grande parte muçulmanos por terra. Conflitos no país ‘são multifacetados, impulsionados por rivalidades étnicas, disputas de terra e criminalidade, com religião frequentemente secundária’.
Esta complexidade não invalida a realidade da perseguição cristã, mas coloca o problema em perspectiva mais ampla. A Nigéria enfrenta múltiplas crises de segurança simultâneas. Há banditismo criminal, conflitos por recursos, tensões étnicas e, sim, perseguição religiosa.
O real perigo está nos veículos de mídia retratando o Boko Haram, grupo desprezado tanto por muçulmanos quanto cristãos, como representativo do Islã. Boko Haram, junto com ISWAP e grupos de bandidos, tratam qualquer um que se oponha a eles como inimigo, independente da fé. Eles bombardearam mesquitas, assassinaram líderes muçulmanos e mataram cristãos, demonstrando sua violência indiscriminada.
A resposta americana: intervenção militar ou política externa?
A pegada de segurança americana diminuiu na África, onde parcerias militares foram reduzidas ou canceladas. Forças americanas provavelmente teriam que ser retiradas de outras partes do mundo para qualquer intervenção militar na Nigéria. O ataque de Trump representa mudança significativa nesta tendência.
O ataque americano pode ‘interromper operações do ISIS no curto prazo, mas as questões de longo prazo que cercam a violência na Nigéria são extremamente complexas’, disse o analista militar da CNN e coronel aposentado da Força Aérea americana Cedric Leighton, apontando para os fatores econômicos em jogo. ‘A maneira como a maioria desses ataques funciona é que eles precisam ser parte de uma campanha maior, e o que não estamos vendo aqui é essa campanha maior’.
A pergunta que fica é: este ataque representa início de engajamento militar americano mais amplo na Nigéria, ou é ação pontual para enviar recado político? Trump já demonstrou preferência por ações militares limitadas mas de alto impacto simbólico.
Os EUA já tomaram medidas para punir a Nigéria por sua percebida falha em proteger cristãos. Em outubro, Trump adicionou a Nigéria de volta a uma lista de países que os EUA monitora por violações de liberdade religiosa.
Para defensores da intervenção humanitária, a ação representa uso legítimo do poder militar americano para proteger minorias perseguidas. Para críticos, pode ser vista como imperialismo disfarçado de missão humanitária.
O governo nigeriano entre pressão externa e realidade interna
Em post de véspera de Natal, o presidente nigeriano Bola Ahmed Tinubu escreveu no X que reza pela paz no país, especialmente entre pessoas de diferentes religiões. ‘Estou comprometido em fazer tudo ao meu alcance para consagrar a liberdade religiosa na Nigéria e proteger cristãos, muçulmanos e todos os nigerianos da violência’.
Tinubu escreveu em post de 1º de novembro na plataforma que a ‘caracterização da Nigéria como religiosamente intolerante não reflete nossa realidade nacional’. Ele acrescentou que o país e seu governo ‘se opõem à perseguição religiosa e não a encorajam’.
O presidente nigeriano se encontra em posição difícil. Internamente, enfrenta grupos terroristas bem armados operando em território vasto e de difícil acesso. Externamente, sofre pressão crescente dos Estados Unidos e da comunidade internacional para proteger minorias cristãs.
Em 2023, Bola Tinubu foi eleito como novo presidente da Nigéria. Embora tanto ele quanto seu predecessor sejam muçulmanos, o novo presidente realizou grande reorganização. Isso proporcionou melhor equilíbrio representativo das duas faiths em posições de liderança do que sob o presidente Buhari.
Esperava-se que isso levasse ao reconhecimento das violações de direitos humanos contra cristãos, e à intervenção mais eficaz das forças de segurança para proteger cristãos. No entanto, isso não aconteceu de forma tangível durante o período de relatório da Lista Mundial de Observação 2025.
O que está realmente em jogo na Nigéria
A situação na Nigéria vai além de conflito religioso. Representa choque entre duas visões de mundo: uma secular e pluralista, outra teocrática e exclusivista. O Boko Haram e grupos similares não querem apenas eliminar cristãos – querem transformar toda a sociedade conforme sua interpretação extremista do Islã.
O estado de Benue foi o mais atingido, respondendo por não menos que 1.100 mortes de cristãos, incluindo o massacre de Yelewata de 13-14 de junho de 2025, que levou à morte de 280 cristãos, e o massacre de Sankera de abril de 2025, durante o qual mais de 72 cristãos indefesos foram mortos a machado.
O estado de Benue é conhecido como o celeiro de alimentos da Nigéria. ‘É o estado mais fértil de toda a nação’, diz Ruth Hodge. ‘Muita comida é produzida em Benue todo ano.’ No entanto, violência e instabilidade devastaram a produção de alimentos. ‘No momento, nada está saindo do estado de Benue. Muito pouca comida está saindo’.
A estratégia é clara: destruir a capacidade produtiva das comunidades cristãs, forçar seu deslocamento e ocupar suas terras. Não é apenas perseguição religiosa – é projeto de reengenharia demográfica e territorial.
As estradas não são seguras. Pessoas estão sendo sequestradas nas estradas. Caminhões – se estão saindo com a produção – são saqueados, roubados. Os Fulani estão bem armados, cheios de munição, e o militar está fazendo muito pouco, relata Ruth Hodge, cofundadora da Christian Faith Ministries.
Para o Estado nigeriano, a situação representa desafio existencial. Se não conseguir proteger seus cidadãos, especialmente minorias religiosas, sua legitimidade fica questionada. Se aceitar intervenção militar estrangeira, sua soberania fica comprometida.
A resposta de Trump e suas implicações geopolíticas
A decisão de Trump de atacar militarmente posições terroristas na Nigéria representa mudança significativa na política externa americana. Após anos de redução do engajamento militar na África, os Estados Unidos voltam a usar força direta no continente.
Esta ação pode ter múltiplas motivações. Primeira, pressão crescente de grupos cristãos americanos por proteção de correligionários perseguidos. Segunda, necessidade de demonstrar liderança global americana em questões de direitos humanos. Terceira, oportunidade de testar capacidades militares contra alvos do Estado Islâmico.
Analistas de segurança disseram que Lakurawa, grupo menos conhecido proeminente em estados do noroeste, poderia ter sido alvo dos ataques de quinta-feira. Lakurawa se tornou cada vez mais mortal este ano, frequentemente alvejando comunidades remotas e forças de segurança, e se escondendo nas florestas entre estados. Em janeiro, as autoridades da Nigéria declararam o grupo uma organização terrorista e baniram suas atividades nacionalmente.
Para países africanos, a ação americana envia recado claro: os Estados Unidos não hesitarão em intervir militarmente quando considerarem necessário. Para grupos terroristas, demonstra que não há refúgio seguro, mesmo em territórios remotos.
A coordenação com autoridades nigerianas sugere que a ação teve pelo menos consentimento tácito do governo local. Isso pode indicar que Abuja reconhece suas limitações para enfrentar o problema sozinha.
Liberdade religiosa como política de Estado
Sob a perspectiva da liberdade individual, a proteção de minorias religiosas perseguidas deveria ser prioridade de qualquer Estado que se pretenda civilizado. O governo nigeriano, ao não conseguir proteger seus cidadãos cristãos, falha em sua função mais básica.
A intervenção americana, embora questionável do ponto de vista da soberania nacional, pode ser vista como último recurso diante da incapacidade estatal nigeriana. Quando o Estado falha em proteger direitos fundamentais, cria-se vácuo que pode ser preenchido por outros atores.
No entanto, intervenções militares externas raramente resolvem problemas estruturais. O terrorismo do Boko Haram tem raízes profundas na pobreza, na falta de educação, na ausência de oportunidades econômicas e na radicalização religiosa. Bombas podem eliminar terroristas específicos, mas não eliminam as condições que geram terrorismo.
Mesmo diante da perseguição, cristãos nigerianos anseiam que seus atacantes ouçam o Evangelho – que mesmo aqueles que os matam possam encontrar salvação em Jesus Cristo. O reitor da escola bíblica da Christian Faith Ministries é etnicamente Fulani, e Ruth observa: ‘Temos cerca de 50 estudantes Fulani em nossa escola bíblica’. Por favor, orem com eles para que muçulmanos Fulani se voltem da violência para o perdão e alegria de Cristo.
Esta resposta cristã de perdão e evangelização, mesmo diante da perseguição mortal, representa o oposto exato da mentalidade terrorista. Onde terroristas semeiam ódio, cristãos perseguidos semeiam amor. Onde terroristas destroem, cristãos reconstroem.
Trump cumpriu sua promessa de novembro. ‘Eu havia avisado previamente esses terroristas que se eles não parassem com o massacre de cristãos, haveria um inferno para eles’. A questão agora é se esta ação representa início de campanha militar mais ampla ou apenas demonstração pontual de força.
A liberdade religiosa não é negociável. Quando Estados falham em protegê-la, outros atores podem legitimamente intervir. Mas a solução duradoura para a perseguição cristã na Nigéria exigirá muito mais que ataques militares esporádicos. Exigirá mudança cultural profunda, desenvolvimento econômico e fortalecimento das instituições democráticas.
Diante desta tragédia humanitária que ceifa 35 vidas cristãs por dia na Nigéria, uma pergunta permanece: quantas mais bombas serão necessárias antes que a comunidade internacional reconheça que a liberdade religiosa é direito humano fundamental que deve ser protegido a qualquer custo?

