
O Supremo e a Crise da Justiça: Oportunismo ou Necessidade?
Introdução à Polêmica Política e Judicial Brasileira
A recente coluna de Malu Gaspar no jornal O Globo provocou debate acirrado sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) e suas implicações na política brasileira. O artigo sugere que, após a captura do que denomina “golpismo”, o país agora deve lidar com o “excesso de poderes” do STF, especialmente sob a liderança do ministro Alexandre de Moraes.
Essa discussão evoca reflexões críticas sobre como o uso das instituições judiciais pode ser manipulado com fins políticos, levantando questões sobre o que constitui um tribunal de exceção e a legitimidade das ações judiciais em contextos de pressão política.
A Peculiaridade do Judiciário Brasileiro
Desvio de Função Judicial?
O pensamento predominante entre críticos da atuação de Moraes é que o tribunal tem ultrapassado suas atribuições, especialmente no contexto de processos ligados a figuras políticas como Jair Bolsonaro. O juízo de Moraes, ao priorizar a busca por soluções rápidas, é acusado de sacrificar os direitos processuais fundamentais, criando um padrão de julgamento acelerado e, muitas vezes, injusto.
Um ponto crucial é o reconhecimento de que a celeridade desses processos pode refletir uma falta de respeito pelas garantias constitucionais, evidenciado por prisões preventivas prolongadas e decisões monocráticas. Esse cenário instaurou um debate necessário sobre os limites da atuação do STF e sobre a sua função primordial: garantir justiça, não ser uma ferramenta de aniquilação política.
Um “Monstro” Criado
As críticas apontam que os mesmos que deram poder a Moraes para agir no contexto do que consideravam uma ameaça golpista agora se veem assustados pela magnitude de sua influência. O discurso sugere que se criou um “monstro” que pode ser usado contra qualquer adversário político, desencadeando um ciclo de vingaças entre os grupos políticos polarizados no Brasil.
A retórica é clara: o poder judicial, utilizado como um instrumento no combate ao golpismo, pode, em um futuro próximo, se voltar contra aqueles que hoje aplaudem suas ações. A ideia de que o STF deveria retornar ao seu “quadrado”, como sugerido, evoca preocupações sobre a manipulação da justiça para fins eleitorais, não mais uma defesa da democracia, mas uma forma de controle político.
Relevância do Debate
Limites da Intervenção Judicial
A coluna de Gaspar sugere uma nova urgência: é necessário discutir até onde a atuação do STF é justificável. Esse é um tema que transcende a figura de Bolsonaro e envolve o entendimento sobre a atuação do judiciário em um contexto democrático. Numa democracia saudável, o poder judiciário deve atuar como um contrapeso, e não como um executor de agendas políticas.
Esse debate é central para a manutenção do estado democrático de direito. O que se torna preocupante é quando as decisões visam mais eliminar adversários políticos do que buscar justiça. Estariam os membros do STF preparando o terreno para uma nova forma de controle que, em última análise, comprometeria a própria essência da democracia?
A Ação do STF e a Justiça Brasileira
As intervenções de Moraes têm sido interpretadas como uma defesa da democracia, mas muitas vezes à custa da legalidade. As decisões que foram tomadas justamente para lidar com a crise política recente podem abrir precedentes perigosos. A rapidez com que algumas sentenças foram proferidas levanta a questão: a justiça pode ser celeridade ou deve ser, acima de tudo, imparcialidade e equidade?
A justificativa de ações judiciais em nome de uma “boa causa” pode facilmente se transformar em um pretexto perigoso para violar os direitos de outros. A crítica central à percepção de que a prisão de Bolsonaro seria um “ato necessário” é que, se isso se provar um erro judicial, as consequências podem ser devastadoras para a imagem da justiça brasileira.
O Futuro do Judiciário e da Política no Brasil
Perspectivas de Longo Prazo
À medida que a situação política e judicial no Brasil evolui, a necessidade de um debate honesto sobre a legitimidade das decisões do STF se torna mais pertinente do que nunca. É essencial que o país não se deixe levar por narrativas simplistas que veem a questão como um combate entre “certa” e “errada”, mas sim como um complexo emaranhado de interesses e poderes que estão sendo moldados no cenário atual.
O desafio será garantir que os princípios de justiça e legalidade sejam preservados, independentemente de quem esteja no poder. A liberdade de expressão e a crítica à atuação do judiciário são fundamentais, e essa liberdade deve ser defendida e promovida em todas as instâncias.
Conclusão: O Papel da Sociedade Civil
Estes dilemas colocam a sociedade civil em uma posição crítica. O papel da imprensa, da academia e do cidadão comum é essencial para garantir que as ações do STF e a conduta dos políticos sejam monitoradas e debatidas abertamente. A construção de uma democracia robusta exige não apenas uma justiça imparcial, mas também uma população informada e engajada disposta a questionar e desafiar os abusos de poder, independentemente de sua origem.


