
Nove meses de luta e angústia com soluços diários. É essa a situação dramática vivida por Jair Bolsonaro desde o início de 2025, conforme relatou Michelle Bolsonaro neste sábado, 27 de dezembro. O ex-presidente foi submetido na tarde desta data a um novo procedimento cirúrgico em Brasília, desta vez para tentar resolver de uma vez por todas o problema que o atormenta há quase um ano.
Nota editorial: Este conteúdo tem caráter analítico e opinativo, baseado em debates públicos e fontes abertas. Não afirma como fatos comprovados condutas ilegais ou ilícitas. Seu objetivo é promover reflexão crítica sobre temas de interesse público.
Cirurgia de urgência pegou família de surpresa
A decisão médica pegou todos desprevenidos. Na quinta-feira (25 de dezembro), Bolsonaro havia passado por uma cirurgia de hérnia inguinal bilateral, e todos esperavam que ele descansasse alguns dias antes de qualquer novo procedimento. Segundo informações da transcrição, a família e os próprios filhos do ex-presidente foram pegos de surpresa quando chegaram ao hospital e descobriram que ele estava sendo levado novamente para o centro cirúrgico.
O que estava previsto para segunda-feira foi antecipado para sábado por razões médicas específicas. Segundo o cardiologista Ramos Caiado, Bolsonaro passou a noite com soluços e teve dificuldade para dormir. A situação se tornou insustentável, interferindo diretamente na recuperação da cirurgia anterior.
A urgência médica revela como o problema dos soluços não é apenas um incômodo. É uma condição que compromete gravemente a qualidade de vida e pode prejudicar outros tratamentos. Quando médicos decidem antecipar uma cirurgia programada, é porque a situação exige intervenção imediata.
Michelle Bolsonaro demonstrou preocupação nas redes sociais ao pedir orações. Sua declaração de que são “nove meses de luta e angústia” mostra o desgaste emocional que a família enfrenta. Não é apenas o ex-presidente quem sofre, mas todos ao seu redor.
O que é o bloqueio do nervo frênico
O bloqueio anestésico do nervo frênico pode ser indicado para tratar crises persistentes de soluço. O nervo frênico é responsável por estimular o diafragma, músculo fundamental para a respiração. O bloqueio busca interromper estímulos neurológicos anormais que levam às contrações involuntárias.
Em termos simples, o procedimento funciona como um “desligamento” temporário do nervo que comanda o diafragma. Como explicou a transcrição, você consegue respirar apenas com a caixa torácica, então não há risco para a função respiratória básica. É como dar uma pausa forçada em um músculo que não consegue parar de contrair.
Especialistas explicam que o bloqueio do nervo frênico é um recurso extremo, indicado quando medicamentos não produzem efeito. O procedimento pode aliviar os sintomas, mas os resultados variam conforme o paciente e a extensão das lesões prévias.
A cirurgia é relativamente simples se comparada a outros procedimentos. Não exige anestesia geral nem abertura de cavidade abdominal. É feita com anestesia local, utilizando ultrassom para guiar a aplicação de medicamentos próximo ao nervo. Mesmo assim, qualquer intervenção cirúrgica carrega riscos, especialmente em pacientes com histórico médico complexo.
Duas cirurgias em três dias: o risco da sequência
O que chama atenção no caso é a proximidade entre os procedimentos. Na quinta-feira (25 de dezembro), Bolsonaro foi submetido a uma cirurgia de hérnia inguinal bilateral, e no sábado já estava novamente no centro cirúrgico. Para um homem de 70 anos com histórico médico conturbado, essa sequência não é ideal.
A justificativa médica faz sentido do ponto de vista técnico. A hérnia inguinal afeta a cavidade abdominal, região próxima ao diafragma. Se o diafragma continua contraindo involuntariamente devido aos soluços, pode pressionar a área operada e comprometer a cicatrização. É como tentar curar uma ferida enquanto alguém fica cutucando o local.
Até o momento, Bolsonaro já se submeteu a 13 cirurgias desde que foi esfaqueado durante a campanha eleitoral de 2018, em Juiz de Fora. Cada nova intervenção representa mais risco e mais desgaste para um organismo que já passou por traumas significativos.
A facada de Adélio Bispo em 2018 deixou sequelas que persistem até hoje. Os soluços constantes, segundo informações médicas, podem estar relacionados a refluxo gastroesofágico e hérnia de hiato – condições que podem ter origem nas lesões internas causadas pelo atentado.
O procedimento será feito em duas etapas
Segundo informações da equipe médica divulgadas na transcrição, o bloqueio será realizado em dois momentos. No sábado foi feito o lado direito, e na segunda-feira será a vez do lado esquerdo. Essa divisão tem razão médica: existem dois nervos frênicos, um para cada lado do diafragma.
A estratégia de fazer por etapas reduz riscos e permite avaliar a resposta do organismo. Se o bloqueio do lado direito já resolver o problema, talvez não seja necessário intervir do lado esquerdo. Se não resolver completamente, a segunda etapa pode complementar o tratamento.
Cerca de 40 minutos depois do início, Michelle informou que o procedimento havia sido concluído, e o ex-presidente permaneceria em observação. A rapidez da cirurgia confirma que se trata de um procedimento menos invasivo, mas nem por isso menos importante.
A divisão em duas etapas também permite monitorar possíveis complicações. Em um paciente com histórico médico complexo como Bolsonaro, cada precaução é fundamental para evitar problemas adicionais.
Críticas à “equipe bolsonarista” revelam hipocrisia
Um episódio revelador da polarização política brasileira aconteceu nas redes sociais. Quando Michelle Bolsonaro agradeceu à equipe médica que cuidava do ex-presidente, o site Brasil 247 criticou o que chamou de “equipe médica bolsonarista”.
A crítica expõe uma hipocrisia gritante. Qualquer pessoa, independente de posição política, tem o direito de escolher profissionais de saúde nos quais confia. Seria ingenuidade imaginar que Lula se consultaria com médicos declaradamente anti-petistas, ou que qualquer político se submeteria a cirurgias com equipes hostis.
A confiança entre médico e paciente é fundamental para qualquer tratamento. Em procedimentos delicados, essa confiança pode ser a diferença entre sucesso e fracasso. Questionar a escolha de profissionais de saúde por motivos políticos beira o absurdo.
Como observou a transcrição, médicos fazem o juramento hipocrático de não causar dano. Mas na prática, pequenos detalhes – como maior cuidado na aplicação de anestesia ou atenção extra durante o procedimento – podem fazer diferença significativa no resultado.
Estado sempre presente, mesmo na doença
Mesmo internado e passando por cirurgias, Bolsonaro não escapa da presença estatal. Como está preso, apenas Michelle foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes a acompanhá-lo. O quarto é vigiado por no mínimo dois policiais federais e a entrada de telefones celulares e computadores está proibida.
A situação ilustra como o Estado brasileiro trata seus cidadãos, mesmo em momentos de vulnerabilidade extrema. Um homem de 70 anos, passando por cirurgias consecutivas, precisa da autorização de um ministro do STF para receber visitas da família. É o poder estatal se impondo até na intimidade do leito hospitalar.
A própria internação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, após perícia da Polícia Federal atestar a necessidade da intervenção médica. Ou seja: médicos dizem que o paciente precisa de cirurgia, mas quem autoriza é o Estado. Onde está a autonomia médica nessa história?
Essa interferência representa o que há de mais perverso na relação Estado-cidadão: o poder público se arroga o direito de decidir sobre aspectos mais básicos da vida humana, incluindo o direito à saúde e ao acompanhamento familiar.
Para qualquer defensor da liberdade individual, essa situação é inaceitável. Não importa as acusações que pesam sobre Bolsonaro – o direito ao tratamento médico adequado e ao acompanhamento familiar deveria estar acima de disputas políticas.
Perspectivas de recuperação e alta hospitalar
A equipe médica mantém a previsão de alta para o dia 31 de dezembro. Se confirmado, Bolsonaro passará o Réveillon ainda no hospital, mas poderá iniciar 2026 fora do ambiente hospitalar.
Segundo o médico Mateus Saldanha, o ex-presidente será acompanhado diariamente para verificar se o procedimento foi bem-sucedido. O monitoramento constante é necessário porque os resultados do bloqueio do nervo frênico não são imediatos nem garantidos.
O sucesso do tratamento dependerá de vários fatores: a resposta individual do organismo, a extensão das lesões prévias e a ausência de complicações pós-operatórias. Em pacientes com histórico médico complexo, cada variável pode influenciar o resultado final.
A expectativa é que, se o procedimento funcionar, os soluços diminuam significativamente ou desapareçam por completo. Isso permitiria não apenas melhor qualidade de vida, mas também facilitaria futuras intervenções médicas que porventura sejam necessárias.
Lições sobre saúde e liberdade individual
O caso Bolsonaro expõe contradições fundamentais do sistema brasileiro. Por um lado, temos uma medicina capaz de procedimentos sofisticados como o bloqueio do nervo frênico. Por outro, vemos a interferência estatal até nos momentos mais íntimos da vida de um cidadão.
A polarização política chegou ao ponto de questionar escolhas médicas pessoais. Isso representa uma perigosa erosão da autonomia individual, princípio básico de qualquer sociedade livre. Se o Estado pode interferir na escolha de médicos, onde mais pode interferir?
A sucessão de cirurgias expõe a fragilidade clínica de Bolsonaro e reforça o contraste entre a imagem de força cultivada por ele no discurso político e a realidade de um ex-presidente marcado por dependência hospitalar constante.
Para além das questões políticas, o caso lembra que saúde é direito fundamental que deveria estar protegido de interferências ideológicas. Quando permitimos que o Estado ou grupos políticos influenciem decisões médicas, colocamos em risco não apenas um indivíduo, mas o princípio da liberdade de escolha que deveria proteger todos nós.
O episódio serve como alerta: hoje é Bolsonaro sob custódia estatal durante tratamento médico. Amanhã pode ser qualquer um de nós, dependendo dos ventos políticos do momento. A liberdade individual não pode ser refém de disputas partidárias.
Independente do que se pense sobre Bolsonaro como político, sua situação médica atual deveria gerar reflexão sobre os limites do poder estatal e a importância da autonomia pessoal, especialmente em questões de saúde. Afinal, em uma sociedade verdadeiramente livre, o Estado serve ao cidadão, não o contrário – mesmo quando esse cidadão está preso ou é figura controversa.
Resta saber se conseguiremos separar questões médicas de disputas políticas, ou se continuaremos permitindo que o Estado se intrometa até nos aspectos mais básicos da dignidade humana. E você, o que pensa sobre essa situação? O debate está aberto.

