dezembro 27, 2025

Ludwig M

Banco Master: o buraco é muito mais fundo que os R$ 41 bilhões

Banco Master: o buraco é muito mais fundo que os R$ 41 bilhões

Quando a Mônica Bérgamo disse que um ministro confessou não saber se o Brasil está preparado para conhecer toda a verdade sobre o Banco Master, ela estava revelando mais do que uma simples preocupação. As investigações apontam para fraudes de R$ 12 bilhões, mas os indícios sugerem que o rombo pode ser muito maior. Fundos de pensão como o RioPrevidência aportaram cerca de R$ 2 bilhões no banco entre maio e julho de 2025, já durante a crise da instituição.

Nota editorial: Este conteúdo tem caráter analítico e opinativo, baseado em debates públicos e fontes abertas. Não afirma como fatos comprovados condutas ilegais ou ilícitas. Seu objetivo é promover reflexão crítica sobre temas de interesse público.

O iceberg que pode derrubar a economia brasileira

O que começou como uma investigação sobre títulos falsos de R$ 12,2 bilhões virou uma bomba-relógio para o sistema financeiro nacional. O foco da investigação é uma possível fraude estimada em R$ 12,2 bilhões, ligada à operação de venda do Banco Master para o BRB. Mas há críticos que apontam para um buraco muito maior.

O Banco Master não era apenas mais uma instituição problemática. Era um verdadeiro laboratório de inovações financeiras duvidosas. O Master tornou-se conhecido por adotar uma política agressiva para captar recursos, oferecendo rendimentos de até 140% do CDI, prometendo ganhos impossíveis para um banco de pequeno porte.

A estratégia era simples: oferecia rentabilidade absurda, captava dinheiro de investidores desesperados por rentabilidade, e usava essas verbas para sustentar um castelo de cartas. As instituições são suspeitas de criar falsas operações de créditos, simulando empréstimos e outros valores a receber. Estas mesmas instituições negociavam estas carteiras de crédito com outros bancos.

O problema é que esse modelo contaminou o sistema. Segundo informações da transcrição, não era apenas o Master que operava com títulos duvidosos. Há indicações de que outros bancos seguiam práticas similares, transformando o setor financeiro brasileiro num campo minado de operações sem lastro real.

A dança das cadeiras em Brasília: quem protege quem?

Enquanto publicamente todo mundo critica o Banco Master, nos bastidores de Brasília a história é diferente. O ministro Dias Toffoli determinou a realização de uma acareação entre o presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro, o ex-presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, e o diretor de Fiscalização do Banco Central. A reunião acontece nesta terça-feira, 30 de dezembro.

A estratégia do dono do Master, Gabriel Vorcaro, sempre foi clara: ancorar-se no Estado. Ele distribuiu recursos em Brasília porque sabia que sua única salvação viria do poder público. Não por acaso, Toffoli decidiu antecipar esse recurso para dar maior celeridade ao inquérito. A acareação entre Daniel Vorcaro, Paulo Henrique Costa e Ailton de Aquino pode se tornar um divisor de águas.

O curioso é que, segundo a transcrição, no mundo político brasiliense existe uma torcida velada para que Alexandre de Moraes consiga salvar o Banco Master. Não por bondade ou justiça, mas porque as ramificações do escândalo podem atingir muita gente importante. O clima de desconfiança institucional se agravou após vir a público que Toffoli viajou em um jatinho particular para Lima. A aeronave pertence ao advogado de investigados no próprio caso Banco Master.

Essa proteção não é gratuita. O Master virou um verdadeiro caixa da corrupção brasileira, onde todo corrupto usava a instituição para seus propósitos escusos. Agora que a bomba explodiu, o desespero é geral para tentar abafar o caso.

O celular que pode derrubar meio governo

A informação mais explosiva do caso não está nos balanços fraudulentos, mas no celular de Gabriel Vorcaro. Segundo informações divulgadas, esse aparelho é uma verdadeira bomba. Os dados já estão com a Polícia Federal e atingem políticos e até membros do STF.

Se essas informações vazarem, não vai sobrar pedra sobre pedra em Brasília. A transcrição deixa claro que pessoas de direita e esquerda estão envolvidas nessa trama. Ninguém sairá ileso dessa história. É exatamente por isso que há tanto empenho para enterrar o caso.

O mais preocupante é que essa rede de conexões pode explicar por que um banco visivelmente problemático conseguiu operar por tanto tempo sem interferência efetiva dos órgãos reguladores. Para mim, não seria possível o Banco Master chegar ao ponto que chegou se a regulação CVM fosse eficaz. Estamos em 2025 e nada de substancial foi feito por parte da Comissão.

A pergunta que não quer calar é: quantas outras instituições operam com o mesmo modelo de proteção política que o Master desenvolveu? E quantos outros “celulares explosivos” existem circulando pelos corredores do poder?

As múltiplas investigações que ninguém quer ver

O caso do BRB é apenas a ponta do iceberg. Há pelo menos mais três frentes de investigação em andamento, cada uma mais grave que a anterior. A primeira envolve créditos consignados oferecidos pelo Master, que era um dos bancos autorizados no programa do governo Lula para endividar trabalhadores CLT.

A segunda investigação trata de supostos esquemas envolvendo a Previ, o maior fundo de previdência do Brasil. O RioPrevidência, de servidores públicos cariocas, aportou cerca de R$ 2 bilhões no banco entre maio e julho de 2025. A operação aconteceu já durante a crise da instituição, levantando questões sobre quem autorizou esses aportes.

A terceira linha de investigação é ainda mais complexa. Envolve a criação de notas comerciais falsas através de empresas de fachada. Um exemplo é a clínica Mais Médicos, que supostamente emitiu notas de R$ 1 bilhão, valores completamente incompatíveis com o faturamento real da empresa.

Cada uma dessas investigações tem potencial para gerar novos escândalos. E todas elas apontam para o mesmo padrão: uso de empresas e fundos como intermediários para legitimar operações duvidosas, sempre com a proteção de figuras influentes do poder público.

A CVM que fez vista grossa

Um dos aspectos mais revoltantes dessa história é o papel da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Uma auditoria conduzida pelo TCU em 2020 apontou uma série de problemas na estrutura da CVM. A auditoria apontou a ausência de uma jurisprudência interna consolidada, falta de transparência nos processos.

Desde 2017, a CVM abriu pelo menos nove processos contra o Banco Master e seus sócios. Mesmo assim, a instituição continuou operando normalmente, captando bilhões de reais de investidores desavisados. Em outubro de 2024, a Fitch Ratings aumentou uma das principais notas do Master para o nível “A-“, um dos mais elevados, um fato destacado à época por instituições como a XP Investimentos.

O caso da Ambipar ilustra perfeitamente essa conivência. A empresa estava quebrada e fez uma oferta pública de aquisição. A área técnica da CVM disse que a operação era irregular, mas a diretoria da comissão passou por cima da recomendação técnica e autorizou mesmo assim.

Essa postura leniente não é acidental. É resultado de um sistema onde reguladores e regulados mantêm relações muito próximas, criando um ambiente propício para que esquemas como o do Master prosperem sem interferência.

O verdadeiro tamanho do rombo

Os R$ 41 bilhões inicialmente mencionados como déficit do Master são apenas o começo. O rombo estimado em R$ 56 bilhões, resultado de fraudes estruturadas e operações sem lastro, ameaça fundos públicos, investidores privados e milhares de aposentados. Outras fontes falam em valores ainda maiores.

O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) terá que arcar com uma parte significativa desses prejuízos. O FGC foi criado em novembro de 1995 e cobre perdas de no máximo R$ 250 mil por CPF ou CNPJ. Mas com milhares de investidores atingidos, mesmo com esse limite, o impacto será devastador.

A tranquilidade demonstrada pelos gestores do FGC é suspeita. Afirmar que R$ 41 bilhões representam apenas metade do fundo soa como tentativa de tranquilizar o mercado. Na prática, ninguém sabe ao certo qual é o tamanho real do buraco deixado pelo Master.

Há fundos de previdência que podem ter perdido bilhões. Há bancos que compraram carteiras podres do Master. Há investidores pessoa física que colocaram suas economias de uma vida inteira numa instituição que prometia rentabilidade impossível. A conta final pode ser muito mais alta que qualquer estimativa atual.

Por que Moraes e Toffoli querem salvar o Master

A pergunta central desta história não é se o Banco Master cometeu fraudes. Isso já está comprovado. A questão é: por que figuras do alto escalário do Judiciário estão se empenhando tanto para salvar uma instituição claramente falida?

A resposta está nas ramificações políticas do caso. Se todas as informações do celular de Vorcaro vazarem, se todas as investigações forem até o fim, a quantidade de gente importante que cairá será assustadora. A justificativa apresentada — a suposta existência de um parlamentar com foro especial entre os investigados — foi recebida com forte resistência no meio jurídico e político.

Ministro Dias Toffoli não está agindo por convicção jurídica. Está tentando proteger um sistema que se sustenta na troca de favores e na proteção mútua entre poder econômico e poder político. A decisão foi revelada pelo jornal O Estado de S.Paulo e partiu de iniciativa do próprio ministro — sem solicitação prévia da Polícia Federal.

Alexandre de Moraes segue a mesma linha. Da mesma forma que não salvou a democracia brasileira quando perseguiu opositores políticos, agora não salvará o sistema bancário tentando resgatar o Master. Pelo contrário, essas intervenções só aumentam a desconfiança e corroem ainda mais a credibilidade das instituições.

O buraco do Master é profundo demais para ser tampado com decisões judiciais. E quanto mais tentarem escondê-lo, maior será o estrago quando tudo vier à tona.

O que você pode fazer diante disso

Esta história ensina lições valiosas para qualquer investidor. Primeiro: quando um banco oferece rentabilidade muito acima da média, desconfie. O mercado sabia que um banco pequeno como o Master prometer rendimentos de 140% era irreal, mas havia um ‘seguro’ – o FGC.

Segundo: diversifique seus investimentos. Nunca coloque tudo numa única instituição, por mais sólida que ela pareça. O FGC oferece proteção limitada, e casos como o Master mostram que nem sempre essa proteção é suficiente.

Terceiro: fique atento aos sinais de alerta. A KPMG já vinha chamando atenção em 2024 para a dificuldade de avaliar alguns ativos do banco. Quando auditores independentes levantam questionamentos, é hora de sair correndo.

Quarto: entenda que o Estado não é seu protetor. Os órgãos reguladores falharam completamente no caso Master. A CVM sabia dos problemas desde 2017 e não fez nada efetivo. O Banco Central demorou demais para agir. Sua segurança financeira depende das suas próprias decisões, não da competência de burocratas.

Por último: acompanhe este caso de perto. A multiplicação de casos de fraudes financeiras revela um problema estrutural. Os escândalos apontam falhas na regulação, que precisa ser mais dura e vigilante. Se o sistema não for reformado profundamente, outros “Masters” surgirão.

O sistema que não aprende com os próprios erros

O Banco Master não é um caso isolado. Brasil teve quase um caso e meio de fraude por ano, desde a criação do FGC, em 1995. Esse escândalo é apenas mais um entre grandes fraudes envolvendo bancos no Brasil. A repetição desses casos revela um padrão sistêmico de falhas.

Cada novo escândalo bancário segue o mesmo roteiro: instituição oferece rentabilidade irreal, órgãos reguladores fazem vista grossa, investidores perdem tudo, contribuintes pagam a conta através do FGC. E no final, ninguém vai preso, nada muda estruturalmente, e o ciclo se repete alguns anos depois.

O caso Panamericano, em 2010, já tinha mostrado os mesmos problemas. O banco sofreu intervenção, com rombo inicial estimado em R$ 1,4 bilhão. Após as investigações, a soma superou os R$ 4 bilhões. Na época, também houve tentativas políticas de salvar a instituição. E também não funcionou.

A diferença é que agora os valores são muito maiores, as ramificações políticas são mais amplas, e a confiança no sistema está no limite. Trata-se de um golpe de dimensão sistêmica: compromete a credibilidade do mercado, coloca em risco o patrimônio de milhares de aposentados.

Não se trata de incompetência dos reguladores. É projeto mesmo. Um sistema onde poucos ganham muito e muitos pagam a conta. Onde o risco é sempre socializado, mas o lucro permanece privatizado. Onde quem tem conexões políticas consegue proteção, e quem confiou no sistema perde tudo.

O Brasil não aprende porque não quer aprender. Aprender significaria reformar o sistema, cortar privilégios, punir responsáveis de verdade. E isso nunca vai acontecer enquanto os mesmos grupos controlarem tanto o setor financeiro quanto os órgãos que deveriam regulá-lo.

A lição mais importante do caso Master é simples: num país onde o Estado protege quem o financia e pune quem o questiona, sua única defesa é sua própria inteligência financeira. Porque quando a casa cair, quem vai pagar a conta não são os políticos nem os banqueiros. São os cidadãos comuns que acreditaram no sistema.

Diante de tudo isso, a pergunta que fica é: quantos outros “Masters” estão operando neste exato momento, protegidos pela mesma rede de cumplicidade política que quase salvou Vorcaro? E mais importante: você está preparado para se proteger quando o próximo escândalo explodir?

Fontes

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