dezembro 29, 2025

Ludwig M

Alemanha prevê terceira recessão e dívida brasileira dispara

Alemanha prevê terceira recessão e dívida brasileira dispara

A Alemanha, vista como o motor econômico da Europa, entra em 2025 reconhecendo algo que não acontecia desde a reunificação: a maior economia europeia pode enfrentar seu terceiro ano consecutivo de recessão. Enquanto isso, o Brasil caminha para uma situação fiscal explosiva, com dívida pública projetada para chegar a 100% do PIB em 2030. São dois sinais claros de que a próxima crise não será apenas um susto passageiro.

Nota editorial: Este conteúdo tem caráter analítico e opinativo, baseado em debates públicos e fontes abertas. Não afirma como fatos comprovados condutas ilegais ou ilícitas. Seu objetivo é promover reflexão crítica sobre temas de interesse público.

O colapso alemão que poucos viram chegando

A Federação das Indústrias Alemãs (BDI) projetou uma contração de 0,3% no PIB alemão para 2025, depois de duas quedas consecutivas em 2023 e 2024. Não é apenas um número. A produção industrial alemã caiu 15% desde 2018, enquanto o setor manufatureiro perdeu 3% dos empregos. O país que sempre vendeu estabilidade para o mundo agora admite estar em crise estrutural.

O problema não é conjuntural. Mais de 300 bilhões de euros em capital de investimento deixaram o país desde 2021. Empresas estão fugindo. O setor metalúrgico e de produtos elétricos pode eliminar até 300.000 postos de trabalho nos próximos cinco anos. Quando o país mais disciplinado da Europa admite estar perdendo o controle, é sinal de que o problema é maior do que aparenta.

O PIB per capita alemão hoje é 1,6% menor do que em 2019, uma estagnação sem precedentes em tempos de paz. Desde 2019, enquanto o PIB da zona do euro cresceu 5% e o dos Estados Unidos 11%, a economia alemã permaneceu parada. A locomotiva europeia emperrou.

A dependência energética que parecia inteligente virou armadilha mortal. A crise energética, agravada pela guerra na Ucrânia, foi um dos principais catalisadores do colapso. A Alemanha dependia fortemente do gás russo e viu os preços da energia dispararem. Décadas de planejamento energético baseado em premissas geopolíticas erradas cobraram seu preço.

Brasil: a bomba fiscal que está prestes a explodir

Enquanto o mundo olha para a Alemanha, o Brasil constrói silenciosamente sua própria catástrofe fiscal. A dívida pública brasileira alcançou 89% do PIB pela metodologia internacional e já é a maior entre os países emergentes acompanhados pelo FMI. Não é para menos: o Tesouro Nacional teve que revisar para cima os limites de endividamento, de R$ 8,5 trilhões para R$ 8,8 trilhões.

Os números mostram uma trajetória insustentável. A dívida pública aumentou para R$ 9,855 trilhões em outubro, vindo de R$ 9,748 trilhões em setembro. É mais de R$ 100 bilhões de aumento em um único mês. A despesa com juros chegou a 7,2% do PIB em 12 meses, ultrapassando R$ 819 bilhões.

As expectativas do Banco Central apontam dívida de 80% do PIB para 2025 e 93,5% para 2035. Mas há projeções mais pessimistas. A Instituição Fiscal Independente do Senado projeta que a dívida chegue a 124,9% do PIB até 2035. Em outras palavras: o Estado brasileiro deve mais do que produz em um ano inteiro.

O pior é que essa dívida cresce em meio a déficits recorrentes. Com base nas regras fiscais atuais, juros reais de 5,1% e crescimento de 2,2%, seria necessário um superávit de 2,1% do PIB para estabilizar a dívida. O Brasil está longe disso. As projeções de déficit para este ano são de R$ 26,3 bilhões, dentro da margem de tolerância de R$ 31 bilhões.

Quando os juros se tornam uma guilhotina fiscal

O Brasil paga alguns dos juros mais altos do mundo para manter sua dívida. A Selic subiu de 12,25% para 15% ao ano, e isso tem impacto direto no custo da rolagem da dívida. As despesas com pagamento e rolagem de dívidas aumentaram de 7,1% para 8,9% do PIB. É dinheiro que sai do orçamento antes mesmo de chegar aos serviços públicos.

Em 15 anos, entre 2010 e 2025, o gasto público brasileiro saltou de 40,9% para 47,2% do PIB. O Estado cresceu, mas a capacidade de financiá-lo não acompanhou. Os gastos com benefícios sociais saíram de 12,3% para 15,6% do PIB. São despesas que continuam subindo automaticamente, independente da capacidade de pagamento.

O resultado é um orçamento cada vez mais engessado. A expansão dos gastos obrigatórios tirou espaço dos investimentos, que caíram de 2,8% para 2% do PIB. O governo gasta mais, mas investe menos. É a receita perfeita para estagnação econômica e deterioração fiscal simultâneas.

Marcus Pestana, da IFI, alerta que o orçamento de 2027 pode ficar totalmente engessado, com 100% da receita disponível consumida por despesas obrigatórias. Quando isso acontecer, o governo não terá margem para absolutamente nada além de pagar contas antigas.

A armadilha dos emergentes em crise global

Países emergentes como o Brasil sofrem mais durante crises globais. Quando o medo toma conta dos mercados, o dinheiro foge primeiro dos lugares considerados mais arriscados. O Instituto de Finanças Internacionais destaca a preocupação com a capacidade do Brasil de atrair investidores em cenário de riscos crescentes e juros mais altos.

O problema é que o Brasil entra nessa possível turbulência com as defesas já comprometidas. A metodologia internacional calcula a dívida brasileira em 89% do PIB, incluindo títulos do Banco Central, bem acima dos 78,1% pelo critério doméstico. Dependendo de como você conta, a situação já é crítica ou está prestes a ficar.

Pelo critério do FMI, o Brasil tem dívida de 87,6% do PIB, superior à média dos emergentes em mais de 20 pontos percentuais. Entre os emergentes do G20, apenas China e Argentina têm dívida maior. Não é exatamente a companhia que você quer quando procura credibilidade fiscal.

A situação se torna ainda mais delicada quando consideramos que o endividamento global atingiu US$ 101,3 trilhões, um salto de 9% em um ano, e o FMI projeta que pode chegar a 117% do PIB em 2027. O mundo inteiro está mais endividado, mas alguns países têm mais margem para rolar suas dívidas que outros.

As receitas extraordinárias que escondem o rombo real

O governo brasileiro tem usado artifícios contábeis para melhorar artificialmente os números fiscais. Analistas apontam que com a queda da MP 1303, o rombo estimado para 2026 é de R$ 20 bilhões. Receitas extraordinárias como atribuição de fundos exclusivos ajudam a maquiar o quadro, mas são temporárias.

Na fiscalização de 2023, o TCU encontrou distorção contábil de R$ 21,1 bilhões classificados incorretamente como amortização da dívida em vez de juros e encargos. Quando nem a contabilidade pública reflete a realidade fiscal, fica difícil confiar nos números oficiais.

Grande parte das despesas com precatórios não são contabilizadas para cumprimento da meta. Para 2025, o STF autorizou R$ 45,3 bilhões em precatórios pagos fora da meta. É como fazer dieta excluindo o jantar da conta de calorias.

Como o Congresso tem resistência ao aumento da carga tributária – que chegou a 32,14% do PIB em 2024 -, haverá dificuldade em financiar ações por essa via. O governo quer gastar mais, mas a sociedade não aceita pagar mais impostos. Alguém precisa explicar para os políticos que essa conta não fecha.

O que uma crise alemã significaria para o Brasil

Se a Alemanha realmente entrar no terceiro ano de recessão, as consequências para países emergentes como o Brasil serão severas. Tanja Goenner, da BDI, alerta que políticas tarifárias americanas e incertezas geopolíticas prejudicam o crescimento global, com PIB mundial projetado em 2,7%, meio ponto abaixo do previsto.

Para o Brasil, isso significa menos demanda por commodities, queda na arrecadação de exportações e pressão adicional sobre o real. Com a moeda mais fraca, a inflação sobe, forçando o Banco Central a manter ou elevar juros, encarecendo ainda mais o serviço da dívida. É um círculo vicioso que pode sair rapidamente de controle.

A produção industrial alemã permanece 9% abaixo dos níveis pré-pandemia e não há sinais de recuperação real. Quando um dos principais motores da economia global enguiça, os efeitos se espalham pelo mundo todo. Países com situação fiscal frágil, como o Brasil, são os primeiros a sentir o impacto.

A questão não é se haverá uma nova crise, mas quando ela chegará e quanto tempo o Brasil conseguirá sustentar sua atual trajetória fiscal. Há graves restrições e consequências que mais cedo ou tarde se apresentarão, se a rota não for alterada. Há um momento em que o problema terá que ser enfrentado estruturalmente.

Por que os libertários sempre avisaram sobre isso

A filosofia libertária sempre alertou para os perigos do crescimento descontrolado do Estado. Quando governos gastam sistematicamente mais do que arrecadam, apostando que o mercado financiará essa farra indefinidamente, estão criando as condições para uma crise fiscal inevitável.

O Estado brasileiro exemplifica perfeitamente essa dinâmica destrutiva. O país enfrenta estrangulamento fiscal devido ao crescimento das despesas obrigatórias que engessam o orçamento, elevada dívida-PIB e déficits primários recorrentes. É exatamente o que os defensores do livre mercado sempre previram: um governo que cresce além de sua capacidade fiscal acabará quebrando.

A estratégia de trocar gasto presente por dívida futura tem que levar em conta os interesses das futuras gerações, como alerta Marcus Pestana. Mas políticos pensam em ciclos eleitorais de quatro anos, não nas consequências de longo prazo de suas decisões fiscais irresponsáveis.

A liberdade econômica não é luxo ideológico. É necessidade prática. Países com governos menores, mais eficientes e financeiramente responsáveis atravessam crises com mais facilidade que aqueles viciados em gasto público descontrolado. A Alemanha e o Brasil estão provando isso da pior forma possível.

Quando a próxima crise chegar – e ela chegará -, não será por falta de aviso. Os sinais estão todos aí: endividamento crescente, déficits recorrentes, artifícios contábeis, crescimento econômico insuficiente para sustentar o tamanho do Estado. A matemática é implacável, mesmo quando a política tenta ignorá-la.

Diante de todos esses dados alarmantes, uma pergunta fica no ar: até quando a sociedade brasileira aceitará financiar um Estado que cresce sem limite, gasta sem controle e transfere o problema para as gerações futuras?

Fontes

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