dezembro 28, 2025

Ludwig M

Lula expulsa Lewandowski: a farsa do perfil combativo

Lula expulsa Lewandowski: a farsa do perfil combativo

Ricardo Lewandowski será removido do Ministério da Justiça nas primeiras semanas de 2026. O motivo oficial é o ‘desejo’ do próprio ministro de deixar o cargo. A versão não oficial? Lula precisa de alguém mais durão para vender segurança pública ao eleitor brasileiro antes das eleições.

Nota editorial: Este conteúdo tem caráter analítico e opinativo, baseado em debates públicos e fontes abertas. Não afirma como fatos comprovados condutas ilegais ou ilícitas. Seu objetivo é promover reflexão crítica sobre temas de interesse público.

O fracasso de dois anos na pasta

Lewandowski assumiu o Ministério da Justiça e Segurança Pública em janeiro de 2024. Desde então, os resultados práticos foram próximos de zero. O Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) terminou 2025 sem avanço em uma comissão especial da Câmara. O PL Antifacção, sua outra aposta, ainda patina no Congresso.

Durante sua gestão, o ex-ministro do STF se concentrou em elaborar projetos que nunca saíram do papel. Foi responsável pela elaboração do Projeto de Lei (PL) Antifacção, retomou a demarcação de terras indígenas e firmou diversos acordos internacionais de combate ao crime. Mas acordos internacionais não prendem bandidos no morro. Demarcação de terra indígena não resolve assaltos na periferia.

O brasileiro médio, que pega ônibus todo dia e anda com medo de ser assaltado, não viu melhora alguma. A violência urbana continuou. As facções seguiram dominando territórios. O Estado brasileiro manteve-se fraco onde deveria ser forte.

Para quem promete uma revolução na segurança pública, o resultado foi decepcionante. Lewandowski chegou como o grande nome que resolveria os problemas do país. Sai dois anos depois como mais um burocrata que encheu gavetas de papéis inúteis.

A verdadeira razão da saída

A versão oficial é que o ministro comunicou o desejo de deixar o cargo, e Lula afirmou que avaliaria um substituto. A imprensa governista fala em ‘cansaço’ após dois anos no cargo. Integrantes do governo relatam sinais de cansaço de Lewandowski.

A realidade é mais simples: 2026 é ano eleitoral. Esse diagnóstico é reforçado pelo fato de 2026 ser ano eleitoral. Lula precisa de alguém que passe credibilidade na área de segurança pública. Lewandowski não consegue transmitir essa imagem.

À época, a avaliação no governo era de que o principal problema a ser enfrentado era econômico e que não havia necessidade de protagonismo do Ministério da Justiça. Agora, porém, a percepção é de que o foco do eleitorado migrou para a segurança pública.

O cálculo político é óbvio. Com Lewandowski na pasta, o governo não consegue disputar a narrativa da segurança pública com a direita. O assunto é tradicionalmente dominado por forças políticas de direita, adversárias de Lula. Para enfrentar Jair Bolsonaro ou outros candidatos da direita, Lula precisa de um nome que pelo menos aparente ser durão com bandidos.

A busca pelo perfil combativo

O governo já deixou claro o que procura no substituto. Para esses setores, falta alguém de perfil combativo em posição de destaque no governo para disputar a pauta da segurança junto à opinião pública. Traduzindo: querem alguém que faça teatro para o eleitor.

Os bastidores revelam o pensamento estratégico. A avaliação desses setores é que o governo precisa colocar em posição de destaque alguém com perfil combativo, capaz de disputar a agenda da segurança pública com a direita. Não se trata de resolver o problema. Trata-se de aparentar que resolve.

A mudança de perfil não é sobre competência técnica. É sobre marketing político. O governo quer alguém que saiba fazer discurso inflamado na televisão. Alguém que prometa tolerância zero com o crime. Alguém que convença o eleitor de que agora vai ser diferente.

A ironia é que a esquerda sempre criticou esse tipo de abordagem quando vinha da direita. Chamavam de populismo penal. Agora fazem exatamente a mesma coisa quando precisam de votos.

A possível divisão do ministério

Uma das especulações é que ela for divida em um Ministério da Justiça e outro da Segurança Pública. Isso criaria mais cargos para distribuir entre aliados políticos. Mais espaço para acomodar interesses eleitorais.

A divisão facilitaria a narrativa governista. Com um Ministério da Segurança Pública específico, fica mais fácil vender a imagem de que o governo está priorizando o tema. É puro marketing institucional.

A discussão sobre a sucessão de Lewandowski ganhou contornos ainda mais estratégicos diante de uma possibilidade em análise: a divisão da atual estrutura em dois ministérios. Cada novo ministério é uma oportunidade de atrair novos grupos políticos para a base governista.

O centrão adora esses movimentos. Mais ministérios significam mais cargos para distribuir. Mais orçamento para administrar. Mais poder para negociar no Congresso Nacional.

Os nomes na disputa

Três nomes principais circulam nos bastidores. Um dos citados é o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Manoel Carlos de Almeida Neto. Mas governistas ressalvam que ele, um nome mais jovem, talvez não tenha força para vencer a disputa pelo cargo.

Também é mencionado o ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Porém, ele já teria dito a aliados que não pretende assumir nenhum posto no governo. Pacheco tem outros planos políticos para 2026.

O terceiro nome é Jorge Messias, advogado-geral da União. Também é mencionado Jorge Messias, advogado-geral da União, mas essa hipótese esbarra em outro fator: Lula teria de recuar na indicação de Messias ao Supremo.

As fontes que citaram esses três nomes ressalvaram que não houve um sinal de Lula sobre o assunto -e que ele pode tomar qualquer decisão, inclusive buscar uma quarta pessoa para o posto. O presidente ainda está avaliando qual nome melhor serve aos seus interesses eleitorais.

A lógica eleitoral por trás da mudança

Toda essa movimentação tem uma explicação simples: as eleições de 2026 estão chegando. A montagem de alianças para 2026 e articulações sobre a composição de um eventual novo governo Lula podem influenciar diretamente quem assumirá a cadeira hoje ocupada por Lewandowski.

Lula sabe que precisa neutralizar o discurso da direita sobre segurança pública. Para isso, precisa de um ministro que pelo menos aparente ser durão. Alguém que prometa operações policiais espetaculosas. Alguém que fale grosso na televisão.

O problema é que mudança de ministro não muda realidade. O Estado brasileiro continuará ineficiente. A Polícia Federal continuará sendo usada para perseguir adversários políticos. As polícias estaduais continuarão subfinanciadas e mal equipadas.

Mas isso não importa na lógica eleitoral. O que importa é a percepção do eleitor. Se conseguir convencer uma parcela do eleitorado de que agora tem um governo forte na segurança pública, a missão estará cumprida.

O histórico problemático da esquerda com segurança

A esquerda sempre teve dificuldade com o tema da segurança pública. Historicamente, defendeu teses que soam bem na academia, mas são rejeitadas pelo cidadão comum. A ideia de que bandido é vítima da sociedade. A tese de que pobreza gera criminalidade automaticamente.

O eleitor que é assaltado no ponto de ônibus não quer ouvir sobre justiça social para bandidos. Quer que o criminoso seja preso e fique na cadeia. Quer andar na rua sem medo. Quer proteger a família.

Por isso a direita sempre dominou essa pauta. Bolsonaro conseguiu eleger-se presidente prometendo tolerância zero com bandidos. Governadores de direita se elegem prometendo operações duras contra o crime organizado. É um discurso que ressoa com o eleitor.

Agora Lula tenta copiar essa fórmula. Quer um ministro que fale a linguagem que o eleitor quer ouvir. Que prometa punição severa para criminosos. Que defenda operações policiais truculentas.

É o oportunismo político no seu estado mais puro. Quando está na oposição, a esquerda critica o ‘populismo penal’ da direita. Quando está no governo e precisa de votos, adota exatamente a mesma estratégia.

O que realmente mudaria a segurança pública

Se Lula quisesse realmente melhorar a segurança pública brasileira, não precisaria trocar de ministro. Precisaria de reformas estruturais profundas. Começando pela própria Polícia Federal, que virou milícia partidária do PT.

O país precisaria de polícias mais bem equipadas e treinadas. Sistema prisional que funcione. Justiça que processe e condene criminosos com eficiência. Leis mais duras para crimes violentos. Fim da progressão automática de penas.

Precisaria reduzir drasticamente a carga tributária, que alimenta o mercado paralelo de produtos sem impostos. Acabar com a burocracia que impede pequenos empreendedores de trabalhar legalmente. Facilitar a posse de armas para cidadãos de bem se defenderem.

Mas nada disso interessa ao governo. Essas medidas exigiriam admitir que o Estado brasileiro é ineficiente. Que a alta carga tributária cria incentivos para a criminalidade. Que o cidadão comum tem direito de se defender.

É mais fácil trocar de ministro e fingir que agora vai ser diferente. O eleitor brasileiro já caiu nessa mentira dezenas de vezes. Aparentemente, está disposto a cair mais uma vez.

A farsa se repete

Ricardo Lewandowski chegou ao Ministério da Justiça prometendo revolucionar a segurança pública brasileira. Dois anos depois, sai pela porta dos fundos, empurrado por cálculos eleitorais do patrão. Seu substituto chegará prometendo exatamente a mesma coisa.

A diferença é que o novo ministro terá cara de durão. Falará grosso para as câmeras. Prometerá operações espetaculosas contra bandidos. E o ciclo se repetirá: muita propaganda, poucos resultados práticos.

O problema real do Brasil não é falta de ministro com perfil combativo. É um Estado inchado, ineficiente e corrupto. É uma carga tributária que sufoca a economia legal e alimenta mercados paralelos. É uma Justiça lenta que deixa criminosos soltos nas ruas.

Enquanto esses problemas estruturais não forem enfrentados, não importa quem esteja no Ministério da Justiça. Pode ser o mais durão dos durões. A criminalidade continuará crescendo, e o cidadão brasileiro continuará refém da violência urbana.

Mas reconhecer isso exigiria honestidade intelectual do governo. E honestidade intelectual não ganha eleições. Prefere-se a farsa do perfil combativo a admitir que o modelo estatal brasileiro fracassou na segurança pública.

A pergunta que fica é: por quanto tempo o eleitor brasileiro continuará acreditando nesse teatro? Até quando cairá na conversa de que agora vai ser diferente?

Fontes

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