dezembro 17, 2025

Ludwig M

Câmara derruba limite do imposto sobre bebidas açucaradas

Câmara derruba limite do imposto sobre bebidas açucaradas

A Câmara dos Deputados derrubou o limite de 2% para o imposto sobre bebidas açucaradas, parte da polêmica reforma tributária do governo Lula. O deputado Chico Alencar comemorou a medida nas redes sociais, sem perceber que está celebrando o encarecimento de produtos básicos para quem tem menos dinheiro.

O chamado “imposto do pecado” agora pode ter qualquer valor que o governo decidir aplicar. Antes, havia um teto de 2% para proteger o consumidor. Agora, não existe mais limite. O resultado é previsível: quem ganha pouco vai pagar mais caro por refrigerantes, sucos industrializados e outras bebidas.

Segundo pesquisas citadas pelos próprios defensores da medida, o consumo de ultraprocessados cresce principalmente entre negros, indígenas e habitantes de regiões pobres do Brasil. O motivo é simples: são mais baratos que os alimentos considerados saudáveis. A resposta do governo? Tornar os produtos baratos ainda mais caros.

O que está no imposto do pecado aprovado

A lista do imposto seletivo, como é oficialmente chamado, inclui três categorias principais. Tabaco e derivados terão tributação maior, o que significa cigarro mais caro para quem já luta para largar o vício. Bebidas alcoólicas também entram na mira, afetando desde a cerveja do fim de semana até destilados.

A terceira categoria são as bebidas adoçadas: refrigerantes, refrescos, néctares, chás prontos, isotônicos. Qualquer produto que ofereça praticidade para fazer um “suquinho baratinho” agora custará mais caro. A alternativa para quem tem pouco dinheiro se resume a água ou sucos naturais que demandam tempo e dinheiro extra.

O mais irônico é que Chico Alencar postou uma foto com Coca-Cola Zero para celebrar a medida. Acontece que produtos zero açúcar não entram no imposto, segundo a própria legislação. Apenas bebidas com adição de açúcar são tributadas. O deputado comemorou sem nem conhecer a lei que ajudou a aprovar.

Para quem pode pagar uma empregada doméstica, como provavelmente Alencar, é fácil mandar buscar frutas na feira e preparar sucos naturais. Para quem trabalha o dia todo por um salário mínimo, essa não é uma opção realista.

A matemática cruel das calorias baratas

Existe uma realidade que políticos ricos preferem ignorar: o ser humano precisa de um número mínimo de calorias para sobreviver. Para quem tem dinheiro, diminuir calorias é questão de estética. Para quem vive na base da pirâmide social, conseguir calorias suficientes é questão de sobrevivência.

Os ultraprocessados são consumidos pelos pobres por dois motivos fundamentais: são baratos em dinheiro e baratos em tempo. Uma Coca-Cola oferece calorias rápidas por pouco dinheiro. Um suco de abacaxi natural exige comprar a fruta, descascar, processar – tempo que quem trabalha muito para ganhar pouco simplesmente não tem.

A conta é simples: se você considera o custo por caloria, refrigerantes e produtos industrializados oferecem energia barata. Macarrão, biscoito, Coca-Cola – esses são os alimentos que permitem ao trabalhador de baixa renda manter as forças para mais um dia de trabalho.

Quando o governo encarece esses produtos, não está atingindo as grandes empresas. Está tirando opções de quem já tem poucas. A Coca-Cola não vai quebrar – vai simplesmente repassar o imposto para o preço final.

Por que não baratear o saudável ao invés de encarecer o barato

A lógica seria óbvia: se alimentos saudáveis são mais caros que ultraprocessados, a solução inteligente seria reduzir impostos sobre frutas, verduras e produtos naturais. Mas essa não é a escolha do governo federal.

Prefere-se punir quem consome produtos baratos a facilitar o acesso aos produtos saudáveis. É mais fácil arrecadar com imposto novo do que abrir mão de receita tributária. O resultado prático é que o trabalhador paga a conta duas vezes: com menos opções e preços maiores.

As próprias pesquisas mostram que ultraprocessados são consumidos pelos pobres “em virtude dos preços mais baratos que os alimentos saudáveis”. Se o diagnóstico está correto, por que a receita é encarecer ainda mais a vida de quem ganha pouco?

A resposta revela muito sobre as prioridades reais: arrecadação importa mais que justiça social. É mais simples criar imposto novo que reformar a estrutura tributária que sobrecarrega alimentos básicos.

O ultraprocessado como salvação, não maldição

Para quem nunca precisou escolher entre comer e pagar conta, é fácil demonizar alimentos industrializados. A realidade de quem vive com pouco dinheiro é diferente. O ultraprocessado muitas vezes representa a diferença entre comer e passar fome.

Peixe fresco exige tempo para limpar, conhecimento para preparar, dinheiro para comprar. Nuggets de peixe oferecem proteína pronta, barata e rápida. Para quem trabalha doze horas por dia, essa praticidade não é luxo – é necessidade.

O mesmo vale para outros exemplos: espiga de milho versus salgadinho, abacaxi fresco versus suco industrial. O produto natural sempre demanda mais tempo, mais trabalho, mais conhecimento culinário. Recursos que quem luta para sobreviver economicamente não tem em abundância.

Criminalizar essas escolhas é criminalizar a pobreza. É exigir que quem tem menos dinheiro também tenha menos praticidade, menos comodidade, menos opções.

A reforma tributária como bomba social

O imposto sobre bebidas açucaradas é apenas uma amostra do que vem pela frente com a reforma tributária. O sistema todo foi desenhado para arrecadar mais, não para simplificar ou tornar a vida mais barata.

A reforma começa a valer em 2027 e promete encarecer praticamente tudo. Quando não existe limite para impostos seletivos, o governo pode aplicar qualquer percentual que quiser. Nada impede que sejam 50%, 100% ou 200% sobre produtos que a população de baixa renda mais consome.

Defensores da medida falam que “a Coca-Cola vai pagar o imposto”. Mentira. Empresas não pagam impostos – repassam para o consumidor final. Quem vai pagar é o trabalhador que ganha pouco e quer tomar um refrigerante no fim de semana.

O mais perverso é ver políticos comemorarem isso como vitória social. Como se encarecer a vida dos pobres fosse favor para os pobres.

O Justo Veríssimo sarcástico da vida real

Existe uma comparação perfeita para entender a esquerda brasileira atual: o personagem Justo Veríssimo, do humorista Chico Anísio. Era um político que odiava pobres, mas pelo menos tinha a honestidade de admitir. “Eu odeio pobre. Quanto mais pobre, mais eu odeio”, dizia o personagem.

A diferença é que Justo Veríssimo era honesto sobre suas intenções. A esquerda atual age como Justo Veríssimo sarcástico: finge amar o pobre enquanto aprova leis que tornam a vida dele mais difícil. Fala em justiça social enquanto tira opções de consumo de quem já tem poucas.

Quando Chico Alencar comemora o encarecimento de bebidas que pobres consomem, está fazendo exatamente isso. Fingindo que prejudicar é ajudar. Disfarçando crueldade de bondade.

O personagem era ficção. A hipocrisia é real e está aprovada no Congresso Nacional.

A pergunta que não quer calar: até quando vamos aceitar que políticos decidam o que pobres podem ou não consumir, sempre encarecendo suas poucas opções?

Fontes

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