dezembro 15, 2025

Ludwig M

Manifestações da esquerda: menos gente e fotos antigas

Manifestações da esquerda: menos gente e fotos antigas

As manifestações da esquerda contra o PL da dosimetria aconteceram em várias cidades brasileiras neste fim de semana, mas os números contam uma história diferente da narrativa oficial. Em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Brasília, Belo Horizonte e Manaus, os protestos reuniram participantes, mas com um público significativamente menor do que as manifestações de setembro de 2025.

O mais revelador é a estratégia adotada pelos organizadores para mascarar a diferença. Em algumas divulgações, foram utilizadas fotos dos protestos de setembro, tentando passar a impressão de que o movimento atual tinha o mesmo alcance. As imagens mostravam multidões com céu aberto e sol, enquanto no Rio de Janeiro o tempo estava fechado e chuvoso no dia dos protestos recentes.

A diferença de público não passou despercebida. Enquanto em setembro os organizadores mostravam imagens aéreas abertas das manifestações, desta vez optaram por enquadramentos fechados. A razão é simples: o número de participantes não justificava planos gerais que revelassem o tamanho real dos atos.

No Rio de Janeiro, o evento foi transformado em show musical com artistas da Globo na praia de Copacabana. A estratégia de misturar entretenimento com protesto político levanta questões sobre a legitimidade desses números como manifestação de opinião pública genuína.

Os números reais por cidade mostram o encolhimento

Em Recife, tradicional reduto da esquerda no Nordeste, a manifestação conseguiu reunir um público considerável. Salvador também registrou boa participação, confirmando a força do movimento nessa região do país. Mas mesmo nessas cidades tradicionalmente favoráveis, o público ficou aquém do esperado pelos organizadores.

Brasília, centro do poder político, não conseguiu mobilizar grandes números. Para uma manifestação que pretendia pressionar diretamente o Senado Federal, o comparecimento foi decepcionante. Belo Horizonte reuniu cerca de 300 a 400 pessoas, número significativo para padrões locais, mas insuficiente para criar pressão política efetiva.

Em Manaus, um episódio curioso revelou o nível de organização dos protestos. Manifestantes foram flagrados gritando “sem anestesia” em vez de “sem anistia”, mostrando que muitos participantes sequer compreendiam completamente a pauta pela qual protestavam.

A comparação com manifestações bolsonaristas anteriores torna ainda mais evidente a diferença de mobilização. Os atos da direita costumam reunir multidões que justificam planos abertos e imagens aéreas, algo que não aconteceu nestes protestos da esquerda.

A estratégia das imagens fechadas revela a verdade

A análise das imagens divulgadas pelos organizadores é reveladora. Todas as fotos e vídeos mostram enquadramentos fechados, focando em pequenos grupos de manifestantes para dar impressão de densidade maior. Esta é uma técnica conhecida de marketing político para amplificar artificialmente o impacto visual de um evento.

Quando uma manifestação tem números expressivos, os organizadores naturalmente mostram planos gerais e imagens aéreas. O fato de evitarem sistematicamente esse tipo de registro indica consciência de que os números não eram favoráveis à narrativa que queriam construir.

A reutilização de fotos de setembro é ainda mais problemática. Revela não apenas a diferença de público, mas também uma estratégia deliberada de desinformação sobre o alcance real do movimento atual.

No caso do Rio de Janeiro, a diferença climática entre as fotos antigas (céu aberto e ensolarado) e o dia real do protesto (tempo fechado e chuvoso) tornou a manipulação evidente para quem prestou atenção aos detalhes.

O financiamento sindical por trás da mobilização

As manifestações da esquerda contaram com o aparato financeiro dos sindicatos para sua organização. Esta estrutura permite mobilizar pessoas através de recursos que incluem transporte, alimentação e até mesmo ajuda de custo para participantes.

Este modelo de manifestação levanta questões sobre a espontaneidade e legitimidade dos protestos. Quando há pagamento direto ou indireto para participar de um ato político, até que ponto ele representa genuinamente a opinião pública?

O uso de shows musicais como atrativo adicional também distorce a natureza dos protestos. Muitos participantes podem estar mais interessados no entretenimento gratuito do que propriamente na pauta política defendida.

A estrutura sindical permite repetir esse modelo em várias cidades simultaneamente, criando uma impressão de movimento nacional amplo, mesmo quando os números individuais de cada cidade não são expressivos.

Marco temporal e pautas controversas dividem até apoiadores

Os protestos incluíram críticas ao marco temporal para terras indígenas, com palavras de ordem como “Brasil, terra indígena”. Esta pauta específica não encontra apoio majoritário nem mesmo entre simpatizantes de esquerda, o que pode explicar parte da redução no público.

A ideia de que todo o território brasileiro deveria ser devolvido aos povos indígenas é vista como radical até mesmo por setores moderados da esquerda. Incluir essa pauta nos protestos pode ter afastado potenciais participantes que apoiariam outras bandeiras do movimento.

A confusão entre “anistia” e “anestesia” em Manaus ilustra como muitos participantes não compreendem completamente as pautas pelas quais protestam. Isso sugere mobilização baseada mais em estrutura organizacional do que em convicção política genuína.

A diversidade de pautas em um único protesto também dilui o foco e reduz a efetividade política do movimento. Protestar simultaneamente contra o PL da dosimetria, o marco temporal e outras questões confunde a mensagem central.

CCJ do Senado: o verdadeiro campo de batalha

O objetivo real dessas manifestações é influenciar a tramitação do PL da dosimetria na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Davi Alcolumbre, presidente do Senado, permitiu que a matéria chegasse à CCJ, onde será decidido seu destino.

A estratégia da esquerda é repetir o que aconteceu em setembro com a PEC das prerrogativas. Naquela ocasião, manifestações conseguiram criar pressão suficiente para que a CCJ rejeitasse a proposta, mesmo com acordo prévio entre Hugo Mota e Alcolumbre para sua aprovação.

A PEC das prerrogativas visava retirar do STF o controle sobre investigações de parlamentares, transferindo essa competência para as próprias casas legislativas. A esquerda conseguiu vendê-la como “PEC da impunidade”, criando resistência popular que influenciou os senadores.

Com o PL da dosimetria, tentam repetir a fórmula. Porém, o menor público nas manifestações pode indicar menor capacidade de pressão sobre os parlamentares desta vez.

Por que desta vez pode ser diferente

Vários fatores indicam que a estratégia de setembro pode não funcionar novamente. O primeiro é justamente a redução no público das manifestações, que sinaliza menor engajamento popular com a causa.

Até mesmo Sérgio Moro, que votou contra a PEC das prerrogativas em setembro, pode ter posição diferente desta vez. A percepção de que a manifestação anterior foi baseada em manipulação pode influenciar parlamentares a não cederem novamente à pressão.

A necessidade de usar fotos antigas e enquadramentos manipulados também demonstra fraqueza do movimento. Parlamentares experientes sabem distinguir entre pressão popular genuína e mobilização artificial.

Existe pressão significativa para aprovação do PL da dosimetria, vinda de setores que consideram a medida necessária para equilibrar as penas no sistema penal brasileiro. Esta pressão pode superar a influência das manifestações menores.

A repetição da mesma estratégia em intervalo tão curto também pode gerar desconfiança. Quando um movimento precisa recorrer às mesmas táticas repetidamente, isso indica dependência de estrutura artificial em vez de apoio popular espontâneo.

O momento político também é diferente. A população pode estar mais atenta às manipulações após os eventos de setembro, reduzindo a efetividade da mesma abordagem.

As manifestações da esquerda contra o PL da dosimetria revelaram mais sobre as limitações do movimento do que sobre sua força. A redução no público, o uso de imagens antigas e a necessidade de enquadramentos manipulados mostram um movimento em declínio.

Para quem defende liberdades individuais e questiona a concentração de poder, é fundamental acompanhar esses processos com olhar crítico. Manifestações legítimas são direito democrático, mas mobilizações artificiais com financiamento sindical distorcem o debate público.

A verdadeira questão não é se as pessoas têm direito de protestar – têm e devem ter sempre. A questão é se esses protestos representam genuinamente a vontade popular ou apenas a capacidade de mobilização de estruturas financiadas com recursos de origem questionável.

Resta saber se os senadores na CCJ conseguirão distinguir entre pressão popular legítima e teatro político bem financiado. A democracia funciona melhor quando as decisões são baseadas em dados reais, não em encenações cuidadosamente produzidas.

Compartilhe:

Deixe um comentário