dezembro 14, 2025

Ludwig M

Ricardo Nunes ataca Uber e 99: regulação mata aplicativos

Ricardo Nunes ataca Uber e 99: regulação mata aplicativos

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, criou regras tão restritivas para aplicativos de transporte que as próprias empresas desistiram de operar. Uber e 99 suspenderam o serviço de motos na capital paulista depois que a prefeitura sancionou uma lei repleta de exigências burocráticas. Agora, Nunes também questiona o preço dinâmico dos carros por aplicativo, mostrando total desconhecimento sobre economia básica.

Essa não é uma questão técnica. É pura defesa de interesses corporativos. O prefeito protege as empresas de ônibus que financiam suas campanhas eleitorais, enquanto prejudica milhões de paulistanos que dependem de alternativas de transporte mais eficientes.

A situação expõe como políticos usam o discurso da “segurança pública” para esconder motivações puramente econômicas. Nunes não está protegendo ninguém. Está eliminando a concorrência que ameaça o monopólio dos ônibus na cidade.

As regras que mataram o serviço de motos

A Prefeitura de São Paulo criou uma série de exigências que tornaram inviável a operação de moto-táxi por aplicativo. As empresas classificaram as regras como “proibitivas, ilegais e inconstitucionais”. Não é exagero. A regulamentação foi desenhada para inviabilizar o serviço.

Entre as principais restrições está a proibição de circular na área do mini anel viário, que corresponde à região do rodízio municipal. Ora, o rodízio existe por causa do trânsito de carros. Motos passam entre os veículos e não contribuem para engarrafamentos. A medida não faz sentido técnico algum.

Motoristas também ficam proibidos de trabalhar em dias de chuva forte, vendaval ou nas marginais Pinheiros e Tietê. A idade mínima foi fixada em 21 anos, bem acima dos 18 anos exigidos para carteira de habilitação. Cada regra foi pensada para reduzir ao máximo o número de trabalhadores disponíveis.

A prefeitura ainda obriga curso especializado de 30 horas pago pelas empresas, cadastro prévio municipal e uso de placa vermelha. Este último ponto é especialmente perverso. Placas vermelhas custam mais caro e envolvem processos burocráticos extensos na cidade de São Paulo.

As empresas foram obrigadas a recorrer à Justiça para tentar derrubar essas regras. Inicialmente, Nunes havia proibido completamente o serviço. Quando perdeu na Justiça, criou uma regulamentação tão restritiva que conseguiu o mesmo resultado: eliminar a concorrência ao transporte público municipal.

O ataque ao preço dinâmico revela ignorância econômica

Além de atacar as motos, Ricardo Nunes agora questiona o sistema de preços dinâmicos dos aplicativos de carro. A Prefeitura pediu “explicações” sobre valores considerados “abusivos” em dezembro. Essa postura revela desconhecimento total sobre princípios básicos de economia.

O preço dinâmico é uma das maiores inovações dos aplicativos de transporte. Quando a demanda aumenta – como em dias de chuva ou dezembro – os valores sobem automaticamente. Isso não é ganância. É inteligência de mercado funcionando para resolver problemas reais.

Valores mais altos fazem duas coisas simultâneas: reduzem a demanda e aumentam a oferta. Passageiros que não têm urgência decidem esperar ou usar alternativas. Motoristas que estavam em casa veem a oportunidade de ganhar mais e saem para trabalhar. O resultado é mais carros disponíveis para quem realmente precisa.

O sistema tradicional de táxis já usa esse conceito há décadas com a “bandeira 2” em dezembro e horários específicos. A diferença é que os aplicativos tornaram o processo transparente e eficiente. Nunes quer voltar ao passado de escassez artificial e filas intermináveis.

Quando governos congelam preços, o resultado é sempre desabastecimento. Sem incentivo para aumentar a oferta, simplesmente falta o produto ou serviço. É melhor ter transporte disponível por um preço maior do que não ter transporte algum.

A verdadeira motivação: proteger o monopólio dos ônibus

Por trás de toda essa guerra regulatória está a defesa das empresas de ônibus. Nunes sabe que moto-táxi tira passageiros do transporte público municipal. Cada pessoa que escolhe alternativas representa menos receita para as concessionárias que operam o sistema de ônibus.

Essas empresas têm relação histórica promíscua com prefeituras brasileiras. No Rio de Janeiro, a situação é similar. As companhias de ônibus financiam campanhas eleitorais e, em troca, recebem proteção contra a concorrência. É um esquema que funciona há décadas.

O problema é que o sistema de ônibus no Brasil sempre foi deficiente. Veículos superlotados, horários não cumpridos, trajetos limitados e tarifas altas. Com a chegada de alternativas como aplicativos de transporte, patinetes e bicicletas, as pessoas descobriram opções melhores.

A resposta natural de um mercado livre seria as empresas de ônibus melhorarem seus serviços para reconquistar passageiros. Mas é mais fácil usar o poder político para eliminar a concorrência. Basta convencer o prefeito a criar regras que inviabilizem as alternativas.

Nunes não está “protegendo vidas”, como alega. Está protegendo lucros de empresários que financiam suas campanhas. A prova é que as mesmas motos continuam circulando pela cidade, só não podem mais trabalhar legalmente com aplicativos.

Liberdade de escolha versus paternalismo estatal

O caso expõe uma questão fundamental: quem deve decidir sobre os riscos que cada pessoa está disposta a assumir? Ricardo Nunes acredita que cabe ao governo determinar se paulistanos podem ou não andar de moto-táxi. Essa visão paternalista trata cidadãos adultos como crianças incapazes de tomar decisões.

Ninguém é obrigado a usar moto-táxi. O serviço é opcional. Quem considera perigoso simplesmente não usa. Quem prefere economia de tempo e dinheiro pode escolher essa alternativa. Permitir o funcionamento dos aplicativos não força ninguém a nada – apenas oferece uma opção a mais.

O mesmo raciocínio vale para preços dinâmicos. Passageiros podem aceitar pagar mais caro em horários de pico ou procurar alternativas. O aplicativo mostra o valor antes da contratação. Não há engano nem obrigatoriedade. É pura transparência de mercado.

Quando o Estado remove essas opções, está limitando a liberdade individual sem justificativa convincente. Motos circulam livremente pela cidade. Pessoas maiores de idade podem andar de moto normalmente. Por que não podem fazer isso mediante pagamento através de um aplicativo?

A verdade é que paternalismo estatal sempre esconde outros interesses. Neste caso, a proteção de um setor empresarial específico às custas da liberdade e conveniência dos cidadãos comuns.

O modelo de aplicativo que Nunes quer destruir

As exigências criadas pela Prefeitura atacam diretamente o modelo de negócio dos aplicativos de transporte. Empresas como Uber e 99 fazem intermediação entre motoristas autônomos e passageiros. Não são empregadoras tradicionais nem prestadoras diretas de serviço.

Agora Nunes obriga essas empresas a pagar cursos de 30 horas para motoristas, fornecer equipamentos de proteção individual e assumir responsabilidades que não fazem parte de sua operação. É como obrigar uma empresa de classificados a treinar todos os vendedores que usam sua plataforma.

Essa distorção regulatória tem consequências graves. Primeiro, encarece drasticamente o serviço. Segundo, reduz o número de motoristas dispostos a trabalhar com tantas exigências. Terceiro, pode inviabilizar completamente a operação na cidade.

Existe uma alternativa interessante mencionada na própria discussão: plataformas descentralizadas como o Arcade City. Trata-se de um aplicativo de código aberto que permite criar redes de transporte sem intermediários corporativos. Motoristas podem formar cooperativas e operar sem depender de grandes empresas.

Mas mesmo essa solução pode ser prejudicada pelas regras de Nunes. A burocracia municipal incide sobre qualquer forma de transporte remunerado por aplicativo, independentemente de ser uma multinacional ou uma cooperativa local.

As consequências para trabalhadores e passageiros

Quem mais sofre com essas medidas são exatamente as pessoas que Nunes diz querer proteger. Milhares de trabalhadores perderam uma fonte de renda com a suspensão dos serviços de moto-táxi. Muitos dependiam dessa atividade para complementar a renda familiar ou como ocupação principal.

Do lado dos passageiros, a situação não é melhor. São Paulo tem um trânsito caótico e um sistema de transporte público insuficiente. Moto-táxi era uma alternativa rápida e econômica para trajetos curtos e médios. Sem essa opção, milhões de pessoas ficam reféns de um sistema menos eficiente.

Os preços dos aplicativos de carro também podem ser afetados. Com menos alternativas disponíveis, a demanda se concentra nos serviços restantes. Resultado: mais pressão sobre os preços e menos opções para o consumidor final.

O impacto é particularmente grave para trabalhadores de menor renda. Ônibus são mais baratos, mas também mais lentos e menos confiáveis. Táxis convencionais são mais caros que aplicativos. Moto-táxi ocupava um nicho importante entre essas alternativas.

Nunes criou uma situação em que todos perdem: trabalhadores ficam sem renda, passageiros sem opções e a cidade com menos soluções de mobilidade urbana. Os únicos beneficiados são os donos das empresas de ônibus.

A hipocrisia do discurso sobre segurança

O prefeito justifica suas medidas alegando preocupação com a segurança dos paulistanos. É um argumento hipócrita por várias razões. Primeira: as mesmas motos continuam circulando pela cidade, apenas não podem mais trabalhar legalmente com aplicativos.

Segunda: aplicativos oferecem mais segurança que moto-táxis tradicionais. Há rastreamento em tempo real, identificação do motorista, avaliação mútua e registro de todas as corridas. No sistema informal, nada disso existe.

Terceira: se a preocupação fosse genuína, as medidas focariam em treinamento e equipamentos de segurança, não em criar barreiras burocráticas intransponíveis. Curso de 30 horas pago pela empresa não melhora a segurança – apenas encarece o serviço.

Quarta: muitas das restrições não têm relação com segurança. Proibir circulação na área do rodízio ou exigir placa vermelha são medidas puramente burocráticas.

O verdadeiro objetivo é tornar o serviço inviável economicamente. Se fosse questão de segurança, haveria regulamentação proporcional, não proibição disfarçada.

A situação fica ainda mais absurda quando consideramos que políticos como Ricardo Nunes geralmente defendem a “geração de empregos”. Aqui está uma atividade que oferece renda para milhares de pessoas e ele a destrói com caneta.

O resultado final é uma cidade menos dinâmica, menos livre e com menos oportunidades para trabalhadores e consumidores. Tudo em nome de proteger interesses corporativos específicos.

Ricardo Nunes provou ser exatamente o que muitos temiam: mais um prefeito capturado por grupos de interesse que usa o poder público para eliminar concorrência. O discurso sobre “cuidar dos paulistanos” serve apenas para disfarçar uma operação de protecionismo econômico.

Resta saber se a Justiça derrubará essas regras abusivas e se os cidadãos de São Paulo perceberão que estão sendo prejudicados por quem deveria defendê-los. A liberdade de escolha deveria ser um direito básico, não um privilégio concedido por prefeitos paternalistas.

O que você acha dessa guerra do poder público contra as alternativas de transporte? A regulação excessiva está realmente protegendo alguém ou apenas eliminando opções dos cidadãos?

Fontes

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