dezembro 26, 2025

Ludwig M

2026 será plebiscito sobre STF: Lula pode usar Moraes para ganhar eleição

2026 será plebiscito sobre STF: Lula pode usar Moraes para ganhar eleição

As eleições de 2026 não serão apenas uma disputa presidencial comum. Conforme análise do cientista político Fernando Schuler, elas funcionarão como um plebiscito das ações do Supremo Tribunal Federal nos últimos anos. E o mais surpreendente: essa situação pode estar gerando uma estratégia política inesperada por parte do presidente Lula contra Alexandre de Moraes.

Nota editorial: Este conteúdo tem caráter analítico e opinativo, baseado em debates públicos e fontes abertas. Não afirma como fatos comprovados condutas ilegais ou ilícitas. Seu objetivo é promover reflexão crítica sobre temas de interesse público.

O paradoxo Lula-Moraes: de aliados a adversários?

O presidente Lula tem múltiplos motivos para querer se livrar de Alexandre de Moraes antes das eleições de 2026. Não se trata apenas de diferenças ideológicas, mas de pura estratégia eleitoral. Moraes pode estar se transformando no maior obstáculo à reeleição petista.

O raciocínio é simples: muitos eleitores votarão especificamente para eleger senadores dispostos a fazer impeachment de ministros do STF. Essa demanda pode mobilizar milhões de brasileiros que veem na Corte um poder descontrolado. Para Lula, isso representa um risco direto ao seu projeto de poder.

A solução calculista seria fazer o impeachment de Moraes agora, em 2025 ou início de 2026. Com isso, Lula tiraria a força dessa bandeira da direita e ainda ganharia o direito de indicar mais um ministro. Uma jogada que agradaria ao Senado, agradaria ao próprio Lula, mas deixaria Moraes no sacrifício.

O silêncio presidencial sobre as recentes polêmicas envolvendo o ministro é revelador. Lula não defendeu Moraes em momento algum durante a crise do caso Master. Quem se pronunciou a favor foi apenas Gilmar Mendes, isolado na defesa do colega.

Schuler e a tese do plebiscito institucional

Segundo Fernando Schuler, não passa de ilusão imaginar que haverá algum tipo de autocontenção do Supremo, ou controle externo por parte do Congresso. O comportamento da Corte nos últimos anos demonstra que os ministros não pretendem recuar de suas posições controversas.

O exemplo mais recente foi a decisão do ministro Dias Toffoli de promover uma cautelar no dia 30 de dezembro. Uma medida completamente fora de propósito, tomada às pressas entre o Natal e o Ano Novo, quando não havia urgência alguma. O Banco Master já estava liquidado – qual a pressa para agir numa semana morta?

As eleições de 2026 têm potencial para se transformar em um plebiscito informal sobre o papel do STF para com a sociedade. A manutenção de um Supremo com poderes cada vez mais amplos, capaz de interferir nos demais Poderes, ou a exigência de uma atuação mais contida estará nas mãos do eleitor.

A análise de Schuler expõe uma realidade incômoda: o povo está dando mais importância ao STF que à própria presidência da República. Os candidatos nem precisam mais falar sobre suas pautas. O importante é saber quantos ministros do STF eles poderão nomear.

Alcolumbre: o Senado entre a pressão e a conveniência

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, encontra-se numa posição delicada. Durante sua campanha à presidência da Casa, chegou a defender o impeachment de ministros do STF. Depois de eleito, mudou rapidamente de discurso, afirmando que não haveria impeachment algum.

Essa mudança de posição revela como funciona o jogo político em Brasília. Promessas de campanha são abandonadas assim que se assume o poder. Alcolumbre sabe que pode ser facilmente “comprável” – seja pelo Lula oferecendo emendas parlamentares, seja por Moraes ameaçando aliados políticos no Amapá.

O andamento de qualquer denúncia de impeachment depende de decisão do presidente do Senado, que pode arquivar o pedido ou dar seguimento ao processo. Esse poder concentrado nas mãos de uma única pessoa é problemático para a democracia.

Contudo, se a ofensiva contra Moraes realmente partir do Lula, a situação muda completamente. Alcolumbre poderia aceitar processar o impeachment com o objetivo explícito de concluí-lo antes das eleições. Seria uma jogada que beneficiaria tanto o Senado quanto o Palácio do Planalto.

Os números que assombram o governo

Um dos pedidos de impeachment contra Alexandre de Moraes já conta com 41 assinaturas de senadores. Esse número representa maioria simples e demonstra força política significativa para pressionar por um processo.

Pesquisa da Futura Inteligência apontou que 52,6% dos brasileiros avaliam o STF como ruim ou péssimo, e apenas 26,8% como bom ou ótimo. Há uma clara dissonância entre a percepção popular e o comportamento dos representantes políticos.

Em 2022, 16 dos 27 senadores eleitos tinham discursos críticos ao STF. Se a proporção se repetir em 2026, os críticos formarão maioria, o que poderá resultar em uma presidência da Casa hostil à Corte.

Esses dados explicam o nervosismo do governo Lula. A perspectiva de um Senado dominado pela oposição em 2027 representa ameaça direta ao projeto de poder petista. Por isso a urgência em resolver a questão Moraes antes que seja tarde demais.

O caso Master como estopim da crise

Senadores protocolaram novo pedido de impeachment contra Moraes apontando suposta pressão do magistrado sobre o Banco Central em favor do Banco Master. Os parlamentares citam contrato milionário entre o escritório de advocacia da esposa do ministro e a instituição financeira.

O timing da polêmica é suspeito. O Banco Master já estava liquidado, não havia urgência para qualquer medida judicial. Mesmo assim, Toffoli decidiu agir às pressas no final do ano, numa semana em que todos estavam de férias.

Para os parlamentares, os fatos configurariam possível conflito de interesses, já que Moraes teria usado o peso institucional do cargo para atuar em favor de interesses privados específicos. Se confirmada, seria uma situação gravíssima que justificaria o impeachment.

A resposta de Moraes foi técnica e evasiva. O ministro informou que realizou reuniões com o presidente do Banco Central voltadas exclusivamente para tratar dos efeitos da aplicação da Lei Magnitsky. Mas essa explicação não convenceu nem mesmo aliados do governo.

A estratégia do sacrifício calculado

Para Lula, sacrificar Alexandre de Moraes pode ser a jogada mais inteligente de 2025. Com Moraes fragilizado, é praticamente certo que Jorge Messias será eleito presidente do STF. Isso abriria uma segunda vaga, que poderia ser preenchida por Rodrigo Pacheco ou outro nome de confiança do PT.

A manobra agradaria ao Senado, que se sentiria respeitado em suas prerrogativas. Agradaria ao Lula, que colocaria dois aliados no STF. E tiraria da direita sua principal bandeira eleitoral para 2026.

O único prejudicado seria Moraes, mas isso não preocupa o Palácio do Planalto. Na política brasileira, não existe amizade que resista aos interesses eleitorais. Lula sabe que precisa se reeleger para manter o poder, e Moraes pode estar no caminho dessa ambição.

O mais irônico é que Lula seria o principal beneficiário político da queda de quem o ajudou a voltar ao poder. Moraes foi fundamental para derrubar Bolsonaro em 2022, mas agora pode estar atrapalhando a reeleição petista. Na política, gratidão é luxo que poucos podem se dar.

O Bolsonaro como peça no tabuleiro

Para Lula, o risco representado por Bolsonaro diminuiu drasticamente. O ex-presidente está condenado e inelegível, sendo muito difícil reverter essa situação a tempo das eleições de 2026. Todo mundo sabe que é um processo absurdo, sem lógica jurídica, mas a reversão completa levará tempo.

Isso significa que Lula não teme mais Bolsonaro diretamente. Seu maior receio é enfrentar Flávio Bolsonaro ou outro nome da direita renovada, numa eleição onde o tema central seja o impeachment dos ministros do STF.

A preocupação do governo não é com a esquerda ou com a direita tradicional. É com a indignação popular contra os desmandos do Judiciário. Essa revolta pode eleger um Senado hostil ao STF e, por tabela, ao próprio governo Lula.

Por isso a urgência em resolver a questão Moraes antes que ela vire bandeira eleitoral. Melhor fazer o impeachment agora, controlado pelo governo, do que correr o risco de um Senado de oposição fazer isso em 2027.

2026: o ano da escolha definitiva

Caso o descompasso entre a opinião pública e o Senado se mantenha, o bordão “não reeleja ninguém” pode ganhar força em defesa de um reequilíbrio institucional. A eleição de 2026 será histórica porque renovará dois terços do Senado – cenário que só acontece a cada oito anos.

Diferente das eleições passadas, quando as disputas para o Senado não tinham agenda nacional unificada, o avanço do STF sobre os demais poderes criou uma pauta comum. Eleitores de todo o país podem votar com o mesmo objetivo: limitar o poder da Corte.

Essa é a grande sacada da análise de Schuler. A sociedade dirá o que pensa sobre as ações do STF nas eleições. E se a resposta for negativa, como sugerem as pesquisas, o resultado pode ser devastador para o atual arranjo de poder.

Lula entendeu o recado. Por isso pode estar articulando o impeachment de Moraes antes que seja tarde demais. É uma jogada arriscada, mas talvez seja a única forma de neutralizar a bomba-relógio que as eleições de 2026 representam para seu projeto político.

A ironia histórica é evidente: o homem que ajudou Lula a voltar ao poder pode ser sacrificado pelo mesmo Lula para garantir sua permanência no cargo. Na política brasileira, não existe final feliz para quem confia demais em aliados temporários.

A questão central permanece: teremos eleições livres em 2026 ou o sistema de Justiça tentará novamente tutelar o processo democrático? A resposta a essa pergunta pode definir o futuro da democracia brasileira por décadas.

Fontes

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